Convite para a formação do Grupo de Discussão e Intervenção 2014



A aproximação do ano 2014 abre a perspectiva de ampliação e aprofundamento das formulações relativas à conjuntura que ensejou o golpe de 1964 e ao regime político que dele emergiu. Além disso, movimentações mais imediatas na cena política têm ativado o debate sobre aspectos do processo político nacional durante o regime ditatorial. Em particular, tem sido destacada a questão da anistia: revisão da lei de 1979 e formação da Comissão da Verdade. Para a maioria esmagadora dos participantes do debate, trata-se de escolher os rumos técnico-jurídicos que poderão conduzir ao aplacamento da demanda – formulada, na verdade, por setores pouco expressivos socialmente – por “verdade”, “reparação” e – para outros de peso ainda menor – “punição” dos eventualmente culpados de crimes contra os “direitos humanos”.
A ativação desse debate é interessante, porque constitui um frente de consideração de problemas que podem conduzir ao exame de aspectos mais profundos da trajetória da luta de classes no Brasil desde, pelo menos, a crise dos anos 60. Mas, esse potencial de formulação crítica só se tornará realidade social se houver uma intervenção que combata as perspectivas conciliadoras e reacionárias que vêm assumindo a sua direção. No campo historiográfico, elas têm assumido a forma de um revisionismo tendente a consagrar acriticamente o modelo de organização política hoje hegemônico no mundo.
Tanto do ponto de vista político quanto do ponto de vista historiográfico, é vital fazer a crítica desse revisionismo – em todos os seus matizes – que ameaça se tornar hegemônico e lança as bases de uma “narrativa” que se apresentará como “conhecimento” para os jovens de hoje e para as futuras gerações de brasileiros. Um elemento agravante dessa possibilidade é o caráter internacional da operação revisionista, que ganha vida em todas as sociedades que estiveram sob regimes ditatoriais após a Segunda Guerra Mundial – observadas as singularidades regionais, do Cone Sul da América Latina ao Leste Europeu, passando pelo Sul da Europa e a África do Sul. Pelas evidentes conexões de grande parte desses regimes com a transnacionalização do capital monopolista registrada com especial vigor após a guerra, pode-se trabalhar com a hipótese de que a emergência desse revisionismo expresse uma guinada ideológica prenunciadora da formação de um novo “bloco histórico”, na terminologia de Antonio Gramsci.
Dada a atual correlação de forças favorável ao capital em todo o mundo, o revisionismo, enquanto operação ideológica, vem sendo beneficiado pela possibilidade de avanço da contrarrevolução preventiva de tipo democrático que, sem abrir mão dos recursos coercitivos estatais, incentiva, especialmente nos países periféricos, perspectivas de conciliação e integração de classe via mercado. O debate que estamos propondo deverá ter, portanto, caráter, agenda e dinâmica internacionais, o que implica estar vinculado com a discussão em outros países.
Por isso, estamos convidando colegas e companheiros para organizar o Grupo de Discussão e Intervenção 2014. Pretende-se, por meio da discussão organizada e sistemática, conceber uma forma de intervenção no debate público e disputar a sua direção, isto é, fazer um esforço “contra-hegemônico”, mais uma vez reivindicando a conceituação de Gramsci. O objetivo imediato é aglutinar quem esteja produzindo materiais – monografias de graduação, dissertações, teses, artigos, livros etc. – focados na crise dos anos 60, no golpe de 1964 e no regime ditatorial. Naturalmente, elaborações sobre questões correlatas a tais problemas históricos, como “conexões internacionais”, “antecedentes” ou “desdobramentos”, se enquadram no escopo da proposta.
O grupo se organizará para a discussão e difusão de trabalhos que estejam sendo produzidos por nós mesmos. Não se trata, portanto, de um grupo de estudos. Poderão entrar em pauta, também, materiais produzidos por participantes do debate identificados com outras perspectivas, pela imprensa etc., sempre que considerados relevantes para a nossa estratégia crítica.

Dinâmica de funcionamento do grupo:
1. As reuniões serão mensais.
2. As reuniões terão data fixa: sextas-feiras, das 15 h às 17:30 h.
3. As reuniões acontecerão em local permanente: Instituto de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
4. A pauta das reuniões será decidida na sessão anterior.
5. Não haverá apresentação de texto na reunião. O material para discussão será previamente distribuído e se partirá da premissa de que já terá sido estudado.
6. Haverá um relator, escolhido na sessão anterior, encarregado de apresentar os pontos principais do material, que serão complementados durante a discussão.
7. Será criado um blog, para comunicação e socialização de materiais, bem como para servir de plataforma a partir da qual se façam contatos com grupos que estão cumprindo papéis análogos em outros países.
8. Haverá uma coordenação, composta por Demian Bezerra de Melo, Felipe Abranches Demier e Renato Luis do Couto Neto e Lemos.


Saudações,

Demian Bezerra de Melo
Felipe Abranches Demier
Renato Luis do Couto Neto e Lemos

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